É UM LIXO SÓ!

06/03/2011 22:48

 

A nossa era será conhecida como “a era do lixo” daqui a 200 anos. As futuras gerações não acreditarão que a nossa irresponsabilidade e egoísmo fechavam os olhos para a sujeira. Nem que os seres humanos, com a pretensão de se considerarem os únicos animais racionais, se portassem com tamanha desfaçatez. Quem já parou para pensar no lixo que produz diariamente? E no destino que dá a esses resíduos?

A insensatez é uma questão de educação, que não se confunde com escolarização. Já vi muita gente pós-graduada ser ecologicamente irresponsável. Imprimir, sem necessidade, mensagens que chegam por e-mail. Basta mencionar que a eliminação do Diário Oficial em papel não resultou em total economia no uso desse suporte, porque as pessoas interessadas continuam a imprimir o que lhes interessa em seus computadores. Com a agravante de multiplicar os cartuchos descartáveis.

Quem já não viu carro do ano com passageiros arremessando latinhas, garrafas pet, papéis e outros detritos? Por que as pessoas aceitam os papéis que são distribuídos em cada cruzamento e, imediatamente após, jogam o que receberam na rua? Há uma lei que já passou pela Câmara e precisa merecer aprovação no Senado, que disciplina o destino final dos produtos. Em países civilizados, quem produz um carro é responsável por ele até o final. Não há “desmanches”, indício de subdesenvolvimento e fator em tese gerador de uma cadeia de ilicitudes. Nem há geladeiras jogadas nos rios. Ou sofás, pneus, bicicletas, guarda-chuvas velhos.

Com tanta gente ociosa, por que não treinar os desocupados para fiscalizar o arremesso de detritos em lugares impróprios e aplicar sanções bem significativas? Se as campanhas institucionais não resolvem, o remédio precisa ser mais amargo. É só multando, com acréscimos na reincidência e sanções mais pesadas ainda se a conduta se mantiver inadequada, que se corrigirá o estágio atual de completo desmazelo. O mais triste é verificar que a sujeira das cidades reflete a sujeira da vida pública. Ninguém mais acredita na política, não há instituições confiáveis e tudo parece ter se transformado, em pleno século XXI, num lixo só!

José Renato Nalini, desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo e autor de “Ética Ambiental”, editora Millennium.

Fonte: Observatório Eco