EMPRESAS NÃO QUEREM APARECER NA MÍDIA COMO POLUIDORAS

25/01/2011 14:25

 

 “O marketing ambiental é um produto cada vez mais valioso – ninguém quer aparecer na mídia como poluidor, ou, pior ainda, criminoso ambiental”, a afirmação é do vice-coordenador do NIMA/PUC-Rio (Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e professor de direito ambiental, Fernando Cavalcanti Walcacer.

Segundo ele, as empresas ainda possuem a visão primária de que cuidar do meio ambiente é sinônimo de lucros menores. Contudo, o endurecimento da legislação ambiental nos últimos anos tem claramente “empurrado” muitas empresas para uma nova postura em relação aos cuidados com o meio ambiente, “o que é muito saudável”, avalia.

Além de ser um dos responsáveis pelo NIMA/PUC-Rio, fundado em 1999, Fernando Cavalcanti Walcacer, também é coordenador acadêmico do curso de pós-graduação lato sensu em direito ambiental na mesma Universidade.

Sobre o ensino acadêmico ele revela que muitos dos seus alunos “se apaixonam” por direito ambiental, e sonham entrar no Ministério Público ou na advocacia pública atuando em favor do meio ambiente. “Outros acabam sendo atraídos por escritórios de advocacia, onde vão perceber como é difícil manter uma postura idealista”, conclui.

Walcacer reconhece que os problemas ambientais ainda estão “muito longe das preocupações imediatas da maioria da sociedade brasileira”, porém percebe que a consciência ambiental está “claramente crescendo, em todas as camadas sociais”. Por isso, defende mais investimentos em educação ambiental, “em todos os níveis, da nossa população”. Veja a entrevista que Fernando Cavalcanti Walcacer concedeu ao Observatório Eco com exclusividade.

 

Observatório Eco: Muitas empresas se esforçam ao máximo na mídia para mostrarem uma imagem afinada com o discurso ambiental. Por outro lado, possuem um passivo ambiental imenso. Quando ocorrem danos ambientais as elas não notificam imediatamente as autoridades, e o pagamento das multas ambientais são protelados ao máximo. De que maneira o senhor avalia esse quadro?

Fernando Cavalcanti Walcacer: Acho natural. Maiores cuidados com o meio ambiente significam, numa visão primária, menores lucros; e o marketing ambiental é um produto cada vez mais valioso – ninguém quer aparecer na mídia como poluidor, ou, pior ainda, criminoso ambiental.

Por outro lado, o endurecimento da legislação ambiental nos últimos anos, por exemplo, lei de crimes ambientais, possibilidade de aplicação de multas elevadas, tem claramente empurrado muitas empresas para uma nova postura em relação aos cuidados com o meio ambiente, o que é muito saudável.  

Observatório Eco: Como professor o senhor percebe que a preocupação maior dos estudantes é apenas com a formação ambiental empresarial? Ou existem aqueles que aceitarão no futuro defender o meio ambiente em ONGS, por exemplo, ganhando muito, muito menos?

Fernando Cavalcanti Walcacer: Tenho tido muitos alunos que se apaixonam pela matéria, e sonham em atuar no Ministério Público ou na advocacia pública atuando em favor do meio ambiente. Outros acabam sendo atraídos por escritórios de advocacia, onde vão perceber como é difícil manter uma postura idealista.

Destes, alguns desistem da advocacia privada, outros mergulham de cabeça na defesa dos interesses de seus clientes, outros ainda tentam uma difícil composição entre os seus sonhos e a dura realidade…

Observatório Eco: Na direção do núcleo de estudos ambientais na PUC-RJ, de que forma o senhor se preocupa e motiva a formação crítica dos alunos no segmento do direito ambiental?

Fernando Cavalcanti Walcacer: Nossa preocupação fundamental tem sido, sempre, estimular o aluno a ter uma visão crítica dos problemas ambientais no país e no mundo, das práticas corporativas e políticas públicas a eles destinadas, da atuação do Poder Judiciário e do Ministério Público. São particularmente ricos os debates que ocorrem em nossos grupos de estudos.

Observatório Eco: Por que a sociedade não consegue ser efetivamente participativa na defesa do meio ambiente? O que falta para a Agenda 21 cumprir a meta de incentivar cada vez mais a participação das pessoas nas ações em prol do meio ambiente?

Fernando Cavalcanti Walcacer: Os problemas ambientais ainda estão muito longe das preocupações imediatas da maioria da sociedade brasileira, o que é mais do que explicável – embora a consciência ambiental venha claramente crescendo, em todas as camadas sociais.

Para mudar esse quadro, não vejo outra receita a não ser investir mais e mais na educação ambiental, em todos os níveis, da nossa população.

Observatório Eco: Se o senhor fosse compor a agenda do encontro RIO + 20, que temas não podem faltar nessa agenda?  E por quê?

Fernando Cavalcanti Walcacer: Creio que se deve insistir na questão da transferência de recursos a fundo perdido e transferência de tecnologias limpas para os países em desenvolvimento a preços acessíveis, um esforço maior na proteção da biodiversidade… E o clima, naturalmente.

Por: Roseli Ribeiro

Fonte: Observatório Eco