SUPERARQUITETURA PARA TRANSFORMAR

25/11/2011 10:28

 

Por Lucélio Costa


Século XVIII época em que Cuiabá se instala como capital do Estado de Mato Grosso, um Ouvidor Geral preocupado com as edificações que apareceriam de formas desordenadas sem um plano de desenvolvimento urbanístico, designou que fossem construídas casas, onde as edificações seguiam alinhamento com a rua, uma colada na outra, na melhor forma européia.   

 

Em busca de modernidade, Cuiabá na década de 60, tem no advento da construção de Brasília, um novo movimento vivenciado por projetos do nosso grande arquiteto Oscar Niemayer, logo, o que nos parece velho não resiste à modernidade, e a arte barroca das nossas construções é colocada abaixo sem piedade, sem que tivéssemos conhecimentos conceituais de preservação dos monumentos históricos, se perde belas obras edificadas por grandes mestres da arquitetura barroca. Novos projetos avançaram dando novos paradigmas no visual, pondo fim as belas construções barrocas que representaria hoje um riquíssimo patrimônio histórico que fora negado.

 

Com a divisão do Estado, Mato Grosso cresce se desenvolve e traz no seu bojo novas perspectivas para Cuiabá, a imigração é fator importante para o crescimento demográfico das cidades mato-grossenses. Começa uma nova fase das construções por todas as partes do Estado, em especial a capital, que vê em suas casas do centro da cidade se transformar em área comercial e com isso, é os edifícios a melhor opção.

 

As construções verticais tomam conta dos projetos, surgem grandes empresas construtoras e a paisagem cuiabana se reformula, grandes edificações por muitos bairros se sofisticam, é a verticalização toma espaço em grandes áreas urbanas, onde os cuiabanos e os imigrantes se sentem modernos. E como num piscar de olhos, os prédios se espalham por toda cidade, o luxo, o lazer, a segurança se faz presente na sociedade.

 

Mas, como nem tudo é o que parece ser todo este desenvolvimento econômico trouxe também os problemas das cidades ditas grandes. Consequentemente sem planejamento a expansão demográfica de Cuiabá cresceu desorganizada, antropizando áreas verdes, sem estudos de impacto ambiental condizentes com as eficiências que o crescimento nos impõe, tais como: expansão e tratamento das redes de esgoto, água tratada, distribuição de energia e mobilidade urbana.

 

O município de Cuiabá cresceu sem ter Plano Diretor bem executado, o que poderia ter dado normas às edificações, já sem uma padronização profícua, pois são décadas e décadas sem normatização; chegando mesmo algumas empresas repetirem quase que 70% seus projetos em vários bairros, sem preocupações estéticas, sem arrojo arquitetônico e sem preocupação com o social.

 

Do mesmo modo estamos entrando em uma nova fase, onde temos a oportunidade para mudar a cara de Cuiabá com novos projetos arquitetônicos, e não devendo se limitar somente em arrojadas estruturas da engenharia, é preciso mais do que isso, algo que vá além do visual, conforto e segurança do entre muros. Seria necessário que engenheiros, arquitetos e órgãos afins, visualizem o amanhã dos cidadãos, preparando-se para o aumento populacional e para uma melhor qualidade de vida. Ponto essencial para uma cidade que se prepara para ser sede de um evento como a Copa do Mundo, que além de carecer de atrações arquitetônicas nas suas paisagens urbanas, falta projetos sustentáveis, uma preocupação com o futuro e o bem- estar de todos.

 

Os projetos arquitetônicos nas construções civis contemporâneos seguem uma linha mais comercial, e em Cuiabá não é diferente. Hoje temos diversos edifícios com grandes áreas que mais parecem clubes de lazer; Nada contra a essa necessidade, até porque são as áreas com churrasqueiras, quadras, piscinas, salão gourmet, salão de festas; é na verdade o que nos enche os olhos e são fatores decisivos na hora da oferta e da procura. Entretanto, que não ficamos somente nisso, as dimensões, o visual, a captação de energia solar e a ventilação de cada apartamento são super importantes, e fazem parte de um bom projeto. O que se nota é que  tais projetos pouco têm avançado, são quase comuns, ressaltando um ou outro detalhe que se desponta no seu design, tal como altura, onde cada vez mais se aplica a verticalidade como meio de se aproveitar um só espaço para aumentarem o faturamento, e na sua maioria são apenas blocos quadrados formando torres céu adentro.

 

Não há um projeto estrutural, onde as superarquiteturas sejam parte importante para a cidade se modernizar. Fato que vem acontecendo em várias partes do mundo, principalmente na Ásia e nos Emirados Árabes, onde tais projetos se destacam até mesmo como desafio a física, com edifícios super modernos que por si só, se tornam atração para os turistas, pois são visto como verdadeiras obras de arte sem deixar de ser observada a sustentabilidade com construções ecologicamente corretas. Valorizando em grande escala o meio ambiente, a cultura, a história e os seus cidadãos, bem como aos investidores que apostam neste empreendimento com seriedade, vendo neles as transformações que uma superarquitetura, pode fazer em um mundo de cheio de modernidade.

Aos nossos dias onde a internet nos propõe ver o mundo em toda sua extensão num piscar de olhos, as belas e modernas construções designada superarquitetura estão ao alcance de todos, e como tal servem-nos como espelho de nossos sonhos de consumo. Logo, a simples verticalidade de nossas construções perpassa por novas perspectivas em alcançarmos toda essa modernidade.

Já não é mais possível termos um olhar fixo apenas para baixo (áreas comuns), é na verticalidade (altura) com arte que deve predominar novos projetos de construção civil, novas ideias que podem e devem embelezar, modificando nossa visão urbana, tomando como exemplos cidades como: Abu Dabhi, Dubai, Beijing, Catar, Singapura entre outras, que se renova, erguem-se e se tornam atrativas ao mundo.

Cuiabá precisa ser olhada pelos nossos arquitetos e engenheiros com visão futurista em seus projetos, enobrecendo e valorizando os espaços urbanos, especializando-os com inovações arquitetônicas, traçando horizontes e quebrando velhos paradigmas da engenharia, arquitetura e urbanismo, e se necessário, até mesmo da física.  Enfim, inserindo neste processo de transformação os aspectos tecnológicos em parceria com as preocupações humanistas e ambientais, para atingir o desenvolvimento artístico da cidade.

Parafraseando o arquiteto espanhol Luis Fernández Galiano “A boa arquitetura é competente tecnicamente, é socialmente útil e esteticamente prazerosa" - podemos pensar assim!

Lucélio Costa – Carioca de nascimento, Cidadão Cuiabano, Bacharel em Direito, Pós Graduado em Direito Agro-ambiental, Professor de Judô, Compositor, Ambientalista, Membro da Ong Garra