Tal qual Sísifo

30/03/2013 20:39


A vida nos ensina que em certos momentos, entramos na roda viva. As repetições das coisas relativas aos descasos, o abandono e manipulações, são fatores fundamentais para nos sentirmos como Sísifo. Aquele que desafiou os deuses e recebeu como castigo por toda eternidade, a incumbência de rolar uma grande pedra até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida.
Desde que ao homem político fora dado o poder incumbindo aos destinos do seu povo, vemos que tal paradigma não se quebrou ao longo dos séculos. Com a eterna esperança de novos tempos, o cidadão espera por melhores dias, de viver com dignidade e com isso alcançar estabilidade num bom padrão de vida. O tempo avança, a vida passa, e o que se têm como modelo são sempre as mesmas coisas. No bojo de tudo, poucos são aqueles que escapam de uma amaldiçoada pretensão em adquirir o poder pelo poder.
O homem político, busca no povo as suas as razões e pretensões para subir a escada social, adentrar a uma classe de homens especiais que detém poder, prestígio e posses sem possuir um caráter constituído de nobreza, altruísmo e abnegação. Ao contrário, as deformações dos valores criam a necessidade da autoproteção e auto imunização, protegendo-os dos males que eles mesmos causam a sociedade, onde não se espelham o cidadão comum.
Mesmo assim o mundo avança, mas com ele segue as desigualdades entre os que podem ter, e os que nada têm; os poucos que tem muito, contra aqueles que pouco ou nada tem. É nesta pseudodemocracia, que caminhamos iludidos pelas utópicas promessas de dias melhores pra sempre. Lá se vão muitas vidas, gerações desesperançadas que se perdem nas desgraças do mundo-homem, estes que destroem o seu próprio habitat, se encastelando dentre muros cada vez mais altos e que não querem ver os destinos de seus esgotos. Perdulários eternos esquecem que apesar das alturas de seus muros jamais conseguirão impedir que uníssono, respiremos o mesmo ar. Sua sapiência imbuída do conluio, os impedem de ver o final de seus caminhos, vivem intensamente apenas o momento do aqui e agora, e acham-se pessoas absolutas e únicas, pois somente aqueles que lhes servem terão suas migalhas.
A todos os homens foi dado o livre arbítrio de ser objetivo, obter e repartir seus conhecimentos, conseguir para si e dividir com outro, pois tudo se transforma em divindade quando assim se vive. Em nada adianta quando ao final de tudo, passamos para a vida etérea; deixando apenas as lembranças daquilo que viveu.
O povo não pode mais viver como Sísifo, castigado pelas insignificâncias do poder que o faz reviver todos os anos com as tragédias causadas pela ganância de poucos em detrimentos das vidas de muitos, visto a malversação em conduzir objetivamente para o povo. Enquanto se encastelam nos intramuros, não detêm com simples muros as avalanches de lama que matam e destroem famílias. Da mesma forma, voam pelos céus de brigadeiros, enquanto os pobres mortais se perdem nas péssimas estradas da vida. Enquanto deitam-se nas suas nababescas camas de sultão, aos “irmãos” esquecidos, cabem-lhes as internações nos corredores dos hospitais.
E lá se vão dias, meses, anos e séculos, carregando os políticos ao alto de sua montanha, tal como a narrativa mítica de Sísifo, quem leva e quem rola montanha abaixo são os desfavorecidos, dias após dias, meses após meses, anos após anos, gerações após gerações, séculos após séculos!

 
Lucélio Costa - Carioca de nascimento, Cidadão Cuiabano, Bacharel em Direito, Pós Graduado em Direito Agroambiental, Professor de Judô, Compositor, Ambientalista, Membro do G.A.R.R.A. (Grupo de Ação e Recuperação dos Recursos Ambientais)